quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Eu era uma criança que, um dia, perguntou a um anjo quais eram os anjos que moravam naquela constelação.

Ele disse que eram um e um milhão.

E ele me disse pra nunca perguntar isso a um homem. E eu entendi. Pois um homem era somente um homem. E ele não podia mais enxergar a criança que eu, um dia, fui.

domingo, 20 de dezembro de 2020

Eu sonhei hoje que precisava roubar uma das facas de uma cozinha industrial. Era um conjunto de várias facas e eu só poderia levar duas. Uma era boa pra cortar frango e a outra eu não sabia bem o que fazer com ela. Mas era daquelas grandes, que pareciam uma machadinha. A cozinha estava cheia de corredores e uns armários de empregados, todos vazios.

O ex prefeito da cidade me pedia ajuda, e eu olhava como se ele fosse um velho conhecido, mas sentia nojo, pois ele tinha se corrompido. A cidade era completamente destruída por bombas, e estava se reconstruindo aos poucos.

A cidade era o quintal da minha casa, e não haviam mais aquelas arvores de frutas, só haviam buracos, cachorros mortos, e uma espécie de radiação que mudava as cores das coisas.

Era tudo verde, cor de metal, azul de metileno e marrom.

sábado, 19 de dezembro de 2020

Às vezes eu fico me questionando como é que realmente conhecemos uma pessoa. É pelo seu signo?  É pela sua pasta de downloads? Numa entrevista numa rádio, depois que ela virou celebridade? Depois de uma briga? Antes do sexo? É quando há uma responsabilidade tão grande e eu a vejo decomposta em mil pedacinhos?

Depois eu me pergunto quando. Aos 20? Aos trinta? Ontem?

Aqui eu escrevo pra todos e pra ninguém. E eu não tenho outra resposta pra dar. É sempre a mesma dor que me move, é sempre o mesmo homem que me chama. Mesmo com um rosto diferente. Mesmo com aquele deboche. Mesmo que acabe no esquecimento.

Todos os nomes e nenhum deles. Sempre.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Eu falo sozinha, mas eu preciso dizer mais uma vez: eu não posso esquecer você.

Eu não posso porque o mundo mudou muito, as pessoas permanecem no erro, querem o abismo e algo abaixo dele.

Eu não posso porque você era o único que me viu.

Era latente.

Era evo.

Eu não posso, pois se eu o fizer, eu vou perder a única esperança de ver além do coração do homem; e eu quero ver o homem incapaz de fazer o mal.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Quando eu me apaixonei novamente, você foi.

Quando eu me apaixonei pela primeira vez, você era distante. Depois era só uma fantasia infantil.

Quando eu me apaixonei mais uma vez, você era mentiroso, relapso. Você ria, você dizia ‘’você não vai me esquecer’’.

Era controlado pela mãe, era drogado. Era rico demais, burro demais. Era inteligente demais. Talvez. E estava na casa dos 20, dos 30, dos 40. E em todas elas não tinha porta, não tinha nada. Além de você. 

E eu queimava, todo dia, ouvindo seu coração.

Quando eu me apaixonei alguma vez, você era promiscuo, era nojento. Usava vermelho e olhava pro céu como se a redenção fosse sua. O prazer só estava na sua cama. Só estava na sua escrita. Nada era meu. Nada era meu. Seu. Sua. Não minha. Ou teu.

Você era música, foi letra, era um sopro de vento seco que embaraçava meu cabelo.

Você foi tríade. Eram quatro, cinco, e mais. Você sempre foi quem eu não conheci, não conhecia, e estava muito perto.

Você era um deus.

E todos eles se transformam em você. Todos eles eram você. Sempre foram, e sempre serão. Você.