terça-feira, 28 de março de 2017

Meu irmão tinha um hábito estranho de inventar histórias que não existiam: Um Snoop de pelúcia chamado Ponaldo, era sempre um astronauta em missões intergalácticas pela NASA.

Um dia ele me contou a história da batalha do rio Ebro:
Em uma noite sem lua, meninos e velhos lutaram em Aragão pelo seu país. 
Era tudo vermelho. 
Vinte e dois tanques e pouca munição haviam atravessado o maior rio basco nas mãos dos homens em busca de vitória. 
Havia um general que talvez mentisse pouco, pois era Franco. 
Uma ave jogou 50 toneladas de bombas. 
Ebro viu os exércitos morrerem.

Meu irmão me contava histórias que não existiam. Ou existiam.


Um dia, quando me apaixonei, escrevi:

Refluxo do tempo

Você me dói.
Tanto.
Não tão pouco.
Tão intenso.
Que eu me quebro.
Em Ebro.
Em escarlate.


Meu irmão morreu com 16 anos. Era uma criança em face a uma guerra.

Talvez meus amores morram enquanto criança, ou nasçam velhos demais para que eu possa entendê-los com meus olhos de adulta. Mas os homens que eu amo sempre vão existir num campo de batalha contada pela visão de uma criança.